quinta-feira, 5 de junho de 2014

Chromecast não vai 'matar' a TV no Brasil, prevê criador

O Google lança nesta quarta-feira, 4, o Chromecast no Brasil, dispositivo que permite streaming de conteúdo para televisores por meio da entrada HDMI. Por trás do desenvolvimento deste produto esteve um brasileiro: Mario Queiroz, hoje vice-presidente de gerência de produtos na empresa.

Queiroz recebeu a nomeação graças ao seu papel no desenvolvimento do Chromecast. Foi sua equipe que, em apenas 18 meses, criou e colocou para vender o dispositivo que tem mudado o mercado de conteúdo televisivo.

Aproveitando a ocasião do lançamento do produto no país, o Olhar Digital bateu um papo com o executivo. Confira abaixo:

Olhar Digital: Por que você acha que o Chromecast pode ser um sucesso no Brasil?

Mario Queiroz: Os motivos não são diferentes pelos quais ele é um sucesso nos Estados Unidos e em outros países. Basicamente, é a simplicidade do produto, que vem trazer vídeos e músicas online para a tela da TV.

Nosso princípio com o Chromecast é de que cada vez mais as pessoas querem acessar conteúdo para divertimento online por meio da internet. O problema é que muitas das soluções são complexas, enquanto o nosso plano era facilitar o uso do nosso produto. Então não há dificuldade de configuração, qualquer um pode configurar o Chromecast em 5 minutos, nem de uso, já que não é necessário aprender nada: quem sabe usar um smartphone, tablet ou laptop. consegue usar o aparelho. Ao acessar o YouTube pelo celular, por exemplo, basta pressionar um botãozinho novo chamado “Cast” para que o vídeo comece a ser reproduzido na TV e controlado pelo smartphone.

A satisfação do consumidor é o que determina o sucesso, e eu acho que a satisfação nessa área vem da possibilidade de acessar o conteúdo na mais alta resolução e qualidade na televisão e da forma mais simples possível.

OD: O Chromecast custa US$ 35 (R$ 80) nos Estados Unidos, um valor incrivelmente baixo, mas R$ 200 no Brasil, o que não é mais um valor tão popular. O desempenho do aparelho pode ser afetado por isso?

MQ: O nosso objetivo em todos os países é trazer o Chromecast pelo preço mais acessível possível. Todos os países têm sua estrutura de importação e impostos e não mudamos nosso objetivo no Brasil.

O Chromecast tem o preço mais acessível da categoria disparado, longe de qualquer concorrência. Eu acho que a funcionalidade dele, com compatibilidade com iOS, Androids e laptops, e o fato de ser uma tecnologia que não sobrecarregue o smartphone, já que o streaming vem direto da nuvem, junto com outros benefícios, justificam o preço, que, novamente, é o mais acessível da categoria.

OD: Qual a importância de um aparelho destes no mercado?

MQ: Há dois ou três anos, em casa, a minha família recebia envelopes da Netflix com DVDs ou Blu-Ray [Mario Queiroz mora nos EUA, e a Netflix começou como um serviço de entrega de DVDs]. Hoje, meus filhos e minha esposa, quando pensam em assistir a algum filme, não pensam mais em colocar um disco em um aparelho; eles pensam em clicar automaticamente no streaming da televisão.

A consciência está mudando tão rápido que ninguém mais vai pensar em outra coisa que não seja streaming na televisão. E assim que acontecer que essa mudança de consciência, os consumidores vão querer que qualquer televisão na frente deles tenham acesso a isso. O Chromecast oferece essa possibilidade, de conectar todas as telas à internet, para poder consumir conteúdo sob demanda desta forma.

Para nós, também é importante que o produto melhore ao longo tempo, e uma das formas que isso pode acontecer é tendo um ecossistema de conteúdo aberto. Em fevereiro, nós lançamentos o kit de desenvolvimento, e já temos mais 3 mil desenvolvedores que estão criando aplicações para o Chromecast. Muitos deles estão disponíveis no Brasil.

OD: Vocês já têm alguma parceria para conteúdo produzido localmente?

MQ: Por enquanto não temos nada para anunciar [agora já se sabe que o aplicativo da Galinha Pintadinha será o primeiro app brasileiro a suportar o Chromecast], mas pelo observado nos Estados Unidos, isso deve acontecer em breve. Quando o Chromecast foi lançado, tinha acesso apenas ao YouTube, Netflix e aos filmes do Google Play, mas logo surgiram os aplicativos do Hulu, HBO Go, Pandora e outros aplicativos. No Brasil vai acontecer o mesmo pelo fato de termos uma plataforma aberta e por trabalharmos com empresas de mídia locais para trazer conteúdo.

OD: Vocês tem previsões ou números atualizados de venda?

MQ: Não podemos compartilhar esta informação, mas em todos os países onde lançamos o Chromecast pela Amazon, o produto liderou as vendas de eletrônicos pelo maior número de dias do que qualquer outro desde o lançamento. Eu sou otimista com a perspectiva no Brasil, porque não há motivo para ser diferente do que aconteceu na Inglaterra, Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos, Alemanha e outros países.

OD: Em 2012, o Google revelou o Nexus Q, projeto parecido com o Chromecast que foi engavetado por ser muito caro e ter poucos recursos. Esses problemas acabaram influenciando o desenvolvimento do produto?

MQ: Em todo desenvolvimento de produto, a experiência influencia o próximo. A minha equipe trabalha na divisão Google TV, e o Android continua sendo uma plataforma que os fabricantes querem embutir em televisões, então o projeto continua. A Philips, por exemplo, anunciou que vão incluir o Android em muitos televisores.

Sobre o Chromecast, entre o fim de 2011 e o início de 2012, eu e uma equipe pequena de engenheiros decidimos fazer uma coisa radical e diferente que é mudar a forma de se levar o conteúdo web para a televisão, e assim surgiu a ideia. Claro, aprendemos com todos os desenvolvimentos da companhia, como o Google TV, o Nexus Q, e outros. Com o que aprendemos, criamos o nosso produto. Eu acho que dessa vez encontramos uma forma interessante de satisfazer o consumidor.

OD: Você acha que a chegada do Chromecast pode ameaçar o negócio das emissoras de TV brasileiras?

MQ: Acho que não. Por exemplo, quando chegaram os canais à cabo, as pessoas continuaram assistindo à Globo, ao SBT, e só chegaram mais opções. Nosso objetivo com a chegada de conteúdo on-demand pela TV não é roubar o espaço da televisão tradicional e linear, é adicionar opções ao consumidor.

Muitas emissoras, inclusive, já têm aplicativos Android e iOS. O que a chegada do Chromecast pode criar é a oportunidade de levar certos conteúdos destes apps serem vistos na televisão, como já acontece nos Estados Unidos. O Hulu, por exemplo, pertence à NBC e Fox, e é oferecido no Chromecast. Então, é algo adicional, e não algo que vai roubar espaço da TV tradicional.

Fonte: Olhar Digital

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